24 janeiro 2007

As primeiras bodegas...

Saímos novamente de carro pela manhã e fomos para Maipo. Esta localidade é melhor sinalizada e um pouco mais próxima do centro de Mendoza do que Lujan, (apesar dos dois "departamientos" serem localizados lado a lado). Fomos a Finca Flishman que fica há 28Km de Maipo e quando chegamos lá, advinhem? Estava fechada para visitação. A Flishman fica fechada dois dias e um deles foi exatamente neste dia, rsss. Decidimos então voltar para o hotel para que não perdêssemos o passeio da tarde às duas bodegas que havíamos marcado.

Geralmente as visitações são feitas em duas bodegas: em uma com uma produçao artesanal e outra com características industriais. Na verdade, nao vi muita diferenca entre as duas, pois possuem maquinário moderno, exportam, etc.

Primeiro visitamos a bodega "mais industrializada", chamada Weinert (www.bodegaweinert.com). Só na nossa van havia cerca de 10 pessoas (ingleses, mexicanos, mas a maioria de Buenos Aires) e na bodega tinha mais gente esperando para a visitação: uma "cabeçada", como se diz aí. Assistimos à explicação do processo de produção dos vinhos, diferenciando o processo de produção entre brancos e tintos, et tal. Nos foram mostrados os tonéis de fermentaçao, as barricas de carvalho para repouso e envelhecimento do vinho, a diferença entre o carvalho francês e o americano (na Winert se usa cerca de 80% de carvalhos franceses nas bodegas), etc.












Nesta vinícola, não visitamos os vinhedos, até porque nem todas estão juntas aos vinhedos. Inclusive muitas têm vinhedos em outras partes da Provincia de Mendoza, como San Juan e Tupungato. (Desculpem o didatismo, mas só para ficar claro, Mendoza é um Estado da federaçao, que na Argentina chama-se Provincia, sendo que a capital também tem o nome de Mendoza, como Rio de Janeiro, Sao Paulo, Cidade do México....).

Depois de toda a explicação, fomos para a etapa final e mais esperada: degustar o resultado de um trabalho tao duro, caro e apurado que é o de se produzir vinhos de qualidade internacional como os de Mendoza.

A degustaçao foi chula. A nossa guia nos ofereceu três pequenas provas: uma de chardonnay, uma de um carrascal (um corte de malbec, cabernet sauvignon e merlot), e um branco sem álcool, pode? Demos pra Sofia degustar o vinho! Ela adorou e agora também entrou na onda, já compramos até uma taça igual a nossa pra ela, que já faz pose, percebe os aromas, gira a taça e etc. Claro que tudo isso com sucos de maça e uva, rsss. Achávamos que poderíamos fazer grandes comparaçoes com vários tipos de vinhos, mas nao é bem assim.


De qualquer forma, vimos expostos na sala de entrada da bodega alguns quadros com reportagens sobre várias premiaçoes do malbec da Weinert. Inclusive eles exportam para vários países em todo o mundo, dêem uma olhada no site.

Seguindo os conselhos do nosso somelier Rafael Xavier, compramos um malbec 1997 para que possamos confrontar com um malbec mais jovem.

A segunda bodega foi a Lagarde, (www.lagarde.com.ar), essa a dita artesanal. Realmente era menor, porém o operacional era mais moderno (os rótulos, a apresentaçao das garrafas e inclusive a estrutura, vai entender! Era mais bonitinha e organizada. Mercedes nossa tourwiner, deu uma breve e rápida explicaçao. Nesta bodega, pudemos olhar os vinhedos, que sao uma pintura! Mas a degustaçao novamente deixou a desejar. Serviram-nos um Altas Cumbres da uva Viognier (um vinho branco), até interessante e um Lagarde Merlot , e só!
Acima uma vista do vinhedo da Lagarde.
Um detalhe do tradicional sistema de irrigação da Lagarde.
Abaixo Sofia colhendo pêras. Algumas árvores frutíferas, por serem plantas mais débeis, ou seja, vulneráveis às pragas, são plantadas junto aos vinhedos. Dessa forma, funcionam como um alarme para se evitar o ataque às parreiras.
Como já haviam nos falado, existem vários níveis de visitas. Nessas mais comuns, (em geral 30 pesos, uns 20 reais), a degustaçao é bastante simples. Nao te oferecem nem água entre um vinho e outro, que dirá um queijinho....As taças também deixam a desejar. Mas como nao saímos de Curicica pra penar aqui, temos feito nossas degustaçoes particulares aqui no hotel. Já compramos nossas tacinhas e frios especiais, rsss.





Curiosidades sobre a cidade de Mendoza: Além da visita às bodegas, a guia que estava na van (Marina), nos deu uma aula sobre vários aspectos da cidade durante o trajeto. Primeiro passamos pelo belíssimo Parque San Martin, o maior da cidade. Nao estamos exagerando. É espetacular!!!! Sinta-se na Europa! Para quem mora no Rio de Janeiro, imaginem um parque como a Quinta da Boa Vista multiplicado por cinco, sendo que tratado com todo o esmero. Em Mendoza existem dezenas de parques, todos eles muito bem cuidados. Levamos Sofia pra brincar aqui na Plaza Independencia em frente ao hotel e estava havendo um espetáculo de circo no anfiteatro da praça (tipo mambembe). A praça estava cheia e isto entre 21 e 22h. Nao havia um brinquedo quebrado. Aqui nao nao se percebe policiamento ostensivo. Com toda essa calma numa cidade de 1 milhao de habitantes, muitos argentinos acham que a insegurança é grande. Coitados, nao sabem o que é morar no Rio de Janeiro. Realmente Mendoza é apaixonante, nao apenas por ser a capital de uma provincia que produz um dos melhores vinhos do mundo, mas pela sua história, beleza e arquitetura.

Assim que chegamos, fomos dar uma volta pela cidade e fiquei preocupado com o tamanho das profundas canaletas, cortando lateralmente as calçadas e margeando as árvores (entre o meio-fio e a lateral da calçada). É assim em praticamente todas as ruas. Hoje pudemos entender esta engenharia da cidade. Devido à escassez de chuvas, (aqui chove cerca de 200mm/ano. Pra vocês terem uma idéia, no Rio a pluviosidade anual está entre 1500 e 2500mm anuais) a oferta de água em Mendoza e nos demais "departamientos mendocinos", obedece à relaçao entre as estaçoes climáticas e a oferta da água que desce dos Andes. Durante o inverno, a neve se consolida e há pouca água. No entanto, durante a primavera e principalmente no verao, o degelo da cordilheira brinda a regiao com uma grande quantidade de água. A companhia de águas daqui faz o manejo de toda essa água que desce da cordilheira. Durante a primavera e o verao a água vai sendo acumulada e vai sendo liberada aos poucos durante todo o ano para todo o sistema de consumo (populaçao, serviços, indústria, agricultura, saneamento, irrigaçao das árvores, etc...).














Fotos de um dique em Luján e uma amostra dos canais de irrigação.


MONDOVINO

Abordamos muitas quetões interessantes que envolvem a paixão pelo vinho. Mas não podemos esquecer que por trás de cada botella que degustamos existe um outro lado (e sempre existe!), que é importante explicitar. O trabalho de colheita das uvas (cosecha) é muito duro e por isso a contratação de mao-de-obra em Mendoza é muito difícil. Por esse motivo são contratados trabalhadores de outras regiões da Argentina, principalmente do norte (mais pobre e indígena) e de países vizinhos, principalmente bolivianos, que são mais baratos. A uva é colhida manualmente, (existem máquinas, mas elas afetam a qualidade dos cachos e aqui não tive notícia de vinícola que as utilizem. Devem utilizá-las nas "Bodegas Chalise no Brasil", rsss). Estes trabalhadores ganham cerca de 1,25 pesos argentinos (cerca de R$0,90) por carrone (não sei se é assim que se escreve, mas é uma espécie carroça com caixas que levam entre 20 e 30kg de uvas em cada caixa). Para que consigam encher cerca de 5 a 6 carroças dessas, eles têm que trabalhar cerca de 12 horas por dia.
Longe de ser hipócrita, acho que é uma observação necessária, já que apesar do todo o prazer que o vinho nos proporciona, devemos também perceber nos diversos aromas, taninos, estruturas, o suor daqueles que trabalham duro e talvez nunca possam degustar uma garrafa daquilo que ajudam produzir.

TOMAMOS UMA VOLTA!

Tomamos uma volta de dois argentinos canalhas. Na parte da manha, quando voltávamos para o hotel, para visitar as bodegas, paramos em um trailler chamado "La Virgen del Vale", para pedir informaçao sobre o caminho para Mendoza. O trailler fazia sanduíches de dois tipos, (lomo, como se chama aqui na Argentina, é uma espécie de bife de boi, fino e macio e o outro de uma lingüiça temperada. Isso acompanhado por ovo, queijo, maionese e o diabo). Os sanduíches eram enormes, mas enormes mesmo! Tanto que vi da estrada quando o cara entregou para o outro que estava comprando. Eu com minha tara por tudo que se pareça com x-tudo, cresci logo o olho. O trailler tinha umas cadeiras e mesas velhas que ficavam embaixo de umas árvores com um pequeno canal de água correndo ao lado (aqui você vê esses canais de águas límpidas por toda a parte). Era até simpático o lugarzinho na beira da estrada. Como nao tínhamos almoçado e chegaríamos ao hotel para o passeio, decidimos fazer daquele lanche nosso almoço. Nem perguntamos o preço. Imaginei que aquilo nao passaria de 3 pesos cada um e com mais uma coca-cola de 600ml saíria menos de 10 pesos. Tratava-se de uma espelunca no meio da estrada. Os dois caras que trabalhavam no trailler eram figuraças (tipo traficante colombiano vendedor de pó). Nos deram informaçao, falaram sobre as bodegas e foram super simpáticos. Entao pedimos dois sanduíches e uma coca-cola. Na hora da conta disseram que dava 30 pesos!!! Resultado: dançamos. Claro que nao custava aquilo. Mas também nao tínhamos muito o que fazer. O mole foi nao ter perguntado o preço antes....percebemos que os dois comemoravam se entreolhando, tipo: pegamos dois brasileiros otários....Entonce, mais uma dica....

Em compensaçao, jantamos num restaurante ítalo-argentino bem legal: o La Marchigiana, (http://www.marchigiana.com.ar/). Fica há três quadras do Hotel San Martin, uma bela casa....

Abraços,

Joao Henrique, Cris e Sofia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Putzs !!! volta de Argentino é sacanagem, mas faz parte vc está na terra deles, pense quantos argentinos já tomaram uma aqui tb, talvez isso sirva de consolo... hehehe!!!!

Abraço

Rafa